André Biernath
As últimas semanas ficaram marcadas pelo surgimento de dois surtos que preocupam as autoridades de saúde. Primeiro, uma hepatite de origem misteriosa que acomete principalmente as crianças. Depois, o espalhamento da varíola dos macacos por vários países.
Enquanto os cientistas ainda tentam desvendar as origens e as causas dos quadros, vale notar que esses eventos acontecem em meio à pandemia de covid-19, doença causada por um vírus que, até o início de 2020, era absolutamente desconhecido.
Será que as crises de saúde em sequência são fruto do acaso? Ou o contexto em que vivemos propicia surtos, epidemias e pandemias?
E, antes mesmo de o coronavírus dominar o noticiário, na última década vimos graves problemas no Brasil e no mundo relacionados a outros vírus, como ebola, zika, dengue, chikungunya, febre amarela e sarampo.
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a segunda hipótese é a mais provável: atualmente, o mundo reúne uma série de características que facilitam ainda mais o aparecimento (ou o ressurgimento) de doenças infecciosas.
E, como você vai entender ao longo da reportagem, há pelo menos sete fatores que ajudam a explicar todo esse cenário: o trânsito de pessoas entre os países, a urbanização desenfreada, as mudanças climáticas, a demanda por proteína animal, o maior contato com zonas silvestres, a recusa às vacinas e a falta de profissionais de saúde e vigilância.
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Mudanças climáticas
O aumento da temperatura média do planeta traz as mais diversas consequências à saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas estarão diretamente relacionadas com 250 mil mortes adicionais a cada ano.
Entre as causas desses óbitos, a entidade destaca o aumento de doenças infecciosas, como malária e dengue.
E isso acontece porque os mosquitos transmissores desses quadros se reproduzem justamente no calor e se aproveitam de reservatórios de água que aparecem durante as temporadas de chuva.
Ora, se a tendência é que as temperaturas fiquem cada vez mais altas daqui em diante, isso representa uma grande oportunidade para que muitos vetores ganhem terreno e ajudem a espalhar ainda mais os agentes infecciosos.
"Hoje em dia, observamos a ocorrência de doenças típicas das regiões tropicais em áreas subtropicais. Já temos casos de chikungunya e febre do Oeste do Nilo no Sul da Europa e de dengue na Flórida, nos Estados Unidos", conta o virologista Anderson F. Brito, pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde (ITpS).
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