De 19 a 23 de maio, a Fiocruz Pernambuco sediou o Workshop Internacional de Laboratórios Móveis (em inglês EMLab Rapid Response Mobile Laboratories, ou Mobcap Workshop) em parceria com o Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e o Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine (BNITM). O evento reuniu cerca de 80 especialistas – incluindo representantes do Ministério da Saúde, pesquisadores da Fiocruz e instituições parceiras – para debater como os laboratórios móveis podem fortalecer a resposta do Brasil a emergências de saúde pública.
Com atividades em inglês, a iniciativa faz parte de um projeto maior, o Emergências em Saúde Pública, financiado pelo Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz). Ele busca avaliar a possibilidade de implantar laboratórios móveis no Brasil para aumentar a agilidade e a precisão na resposta a surtos e epidemias.
Estratégia para o futuro
Os laboratórios móveis são projetados para operar em áreas remotas e sob condições desafiadoras e permitem o diagnóstico rápido e seguro de patógenos altamente letais, como os vírus ebola e sabiá.
Para o virologista Anderson Brito, coordenador científico do ITpS, essas estruturas são uma peça-chave no enfrentamento de doenças emergentes. "Nosso foco foi entender como elas podem fortalecer a capacidade de resposta do Brasil diante de futuras emergências sanitárias. É uma discussão estratégica e urgente", disse.
Já Sophie Duraffour, pesquisadora do BNITM, destacou o papel da rede Mobcap, criada há um ano em colaboração com a Fiocruz, como elo entre instituições do Brasil e da Alemanha. "Durante o workshop, exploramos tanto o potencial quanto os desafios desses laboratórios no nosso contexto. Foi um espaço valioso para trocar experiências, discutir doenças prioritárias no país, como parte da abordagem de Saúde Única, e incentivar a inovação científica."
Sophie lembrou ainda que os laboratórios móveis foram essenciais durante a pandemia de covid-19, atuando como reforço aos sistemas de saúde sobrecarregados. Segundo a pesquisadora, a iniciativa se alinha com a recente resolução da 78ª Assembleia Mundial da Saúde, que estabeleceu o primeiro acordo pandêmico global.
Compartilhando experiências globais
Para o pesquisador Gabriel Wallau, coordenador do projeto pela Fiocruz PE, a cooperação com o BNITM representa a oportunidade de trazer para o Brasil o conhecimento acumulado ao longo de mais de uma década de atuação alemã em surtos como os de ebola e marburg, na África. "Eles desenvolveram a expertise de montar laboratórios em caixas, com toda a estrutura necessária para garantir a segurança dos profissionais que lidam com vírus de alta letalidade. Nosso desafio agora é entender o quanto isso é viável aqui no Brasil", explicou Wallau.
Embora já existam algumas iniciativas nacionais com laboratórios móveis, nenhuma ainda opera com o nível de biossegurança necessário para lidar com agentes de risco elevado. "Reunimos representantes da Fiocruz, do Instituto Evandro Chagas, do ITpS e do Ministério da Saúde, além de outras instituições que atuam em emergências de saúde pública, para discutir o que pode ser adaptado da experiência africana para a nossa realidade na América Latina", completou.
Próximos passos
Representando o Ministério da Saúde, Maria Luísa D'Anaquim explicou que o evento contribui para a estratégia atual do governo. "Por meio do programa Novo PAC, estamos planejando a aquisição de laboratórios móveis para diagnóstico, especialmente em regiões remotas como o Norte, o Pantanal e territórios indígenas. Participar desse workshop nos permite aprender com quem já vivencia esse processo, evitando erros e otimizando o caminho", explicou.
O workshop reforçou a importância da articulação entre instituições públicas, centros de pesquisa e órgãos internacionais para o fortalecimento da capacidade nacional de resposta rápida a emergências sanitárias e para a ampliação do acesso ao diagnóstico em regiões de difícil alcance.