Estudo realizado na cidade de São Paulo com doadores de sangue mostra que 72% nunca tiveram contato com nenhum dos quatro sorotipos da dengue e, por isso, não possuem anticorpos contra a doença. Em Curitiba, o percentual é ainda maior: 87,5%. Esses são alguns dos resultados de uma pesquisa coordenada pela imunologista Ester Sabino, professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e que contou com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). O estudo também foi realizado em Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus, Recife e Rio de Janeiro.
"Saber a suscetibilidade de uma população é importante para que o poder público possa se preparar para enfrentar as futuras emergências sanitárias e destinar recursos humanos e financeiros adequados para combatê-las", afirma Ester, que é consultora científica do ITpS. A informação também pode ajudar o governo na decisão de para onde enviar vacinas, quando a quantidade é limitada. Em 2024, o Brasil registrou a mais grave epidemia de dengue, com 6,5 milhões de casos prováveis e 5,7 mil mortes (há 1,2 mil em investigação).
Nas outras cidades onde o estudo foi realizado, os percentuais de doadores de sangue sem anticorpos para dengue são menores. Nas amostras coletadas em junho deste ano, ou seja, após o último ciclo de epidemia da doença, em Belo Horizonte, 31% tinham anticorpos para um dos quatro sorotipos do vírus Dengue; em Manaus, 24%; no Rio de Janeiro, 17%; e em Recife, 12%. Em Fortaleza, amostras de novembro de 2023 (antes da última epidemia), indicavam percentual de 16%. O dado não permite dizer que a população estudada estava protegida contra a dengue, pois o anticorpo identificado pode ser de um ou mais subtipos.
Além de dengue, a pesquisa avaliou a sorologia para chikungunya. Na maioria das cidades os doadores não tiveram contato com o vírus e, por tanto, estão suscetíveis. No Rio de Janeiro, 79,5% não têm anticorpos; em Manaus, 96%; em Belo Horizonte, 95,5%; em São Paulo, 98%; e em Curitiba, 99,5%.
Por outro lado, duas cidades que participaram do estudo têm populações de doadores de sangue com taxas mais elevadas de anticorpos: Recife (38%) e Fortaleza (32,5%). Estes percentuais, próximos dos 40%, inclui essas populações entre as que teriam menor risco de epidemias para a linhagem viral circulante no país (ECSA - Leste-Central-Sul-Africana).
"É importante destacar que a soroprevalência para chikungunya na cidade de Belo Horizonte foi significantemente maior em junho de 2024 em relação a novembro de 2023, o que sugere uma circulação ativa do agente e prováveis surtos nos próximos anos", afirma Ester.
Ao longo deste ano, a chikungunya já afetou cerca de 261 mil pessoas no Brasil e matou 196 (outras 177 estão em investigação), segundo dados do Ministério da Saúde.
O estudo foi feito com amostras de doadores de sangue dos hemocentros Hemoam, de Manaus; Hemorio, do Rio de Janeiro; Hemominas, de Belo Horizonte; Fundação Pró-Sangue, de São Paulo; Hemepar, de Curitiba; Hemoce, de Fortaleza; e Hemope, de Recife. As cerca de 1.600 amostras foram coletadas em dois períodos – novembro de 2023 e junho de 2024, com exceção de Fortaleza, onde só houve a primeira coleta. Foram investigados anticorpos do tipo IgG (Imunoglobulina G) para dengue e chikungunya, bem como anticorpos do tipo Imunoglobulina M (IgM) para dengue. Anticorpos IgG indicam exposições passadas aos vírus ao longo da vida.
A atuação do ITpS
O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) é uma entidade sem fins lucrativos criada em fevereiro de 2021 com o objetivo de ajudar o Brasil a articular redes e desenvolver competências que auxiliem no preparo para o enfrentamento das futuras emergências sanitárias, como surtos, epidemias e pandemias.
Os trabalhos foram iniciados com um aporte de R$ 200 milhões feito com recursos da iniciativa Todos pela Saúde, criada em 2020 e que teve o Itaú Unibanco como principal doador. O ITpS tem como associada mantenedora a Fundação Itaú e como associados a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Nacional de Medicina (ANM), a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e a Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês.
O ITpS atua em três frentes: