O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) apoia um projeto desenvolvido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) que propõe a criação de um banco nacional de dados, com informações sobre amostras da biodiversidade brasileira, voltado para conservação e vigilância de zoonoses. Com o projeto, o ITpS quer colaborar com pesquisas de vírus e bactérias emergentes com foco na prevenção de novas epidemias e pandemias.
“Nós não conhecemos o que circula na nossa fauna, tanto sobre doenças que ameaçam os animais e os colocam em perigo até de extinção, como sobre as que podem afetar os seres humanos”, explica o médico veterinário Ricardo Dias, responsável pelo projeto na USP. “A vigilância em saúde animal é muito negligenciada e esses dados também são essenciais para a saúde humana”, completa o virologista Anderson Fernandes de Brito, do ITpS.
Atualmente, profissionais de diversas instituições espalhadas pelo país se dedicam a estudar e cuidar de animais, seja em hospitais veterinários principalmente ligados a universidades, centros de triagem e reabilitação da fauna silvestre ou outros centros de pesquisa. Eles recebem bichos encontrados doentes, atropelados e apreendidos em ações contra o tráfico, entre outras situações. “Os animais chegam e são tratados antes de serem encaminhados para criadouros ou para a natureza”, afirma Dias.
Durante a permanência dos animais nas instituições, os pesquisadores coletam e guardam em biorrepositórios amostras biológicas, como tecidos, sangue, soro, pelos e, às vezes, até carcaças inteiras. O problema é que muitos locais não têm boa estrutura para armazenamento ou diagnóstico de doenças e não há uma padronização sobre como coletar e guardar o material. Também não existe troca de informações entre os diversos centros.
Por isso, neste primeiro momento, o projeto vai identificar todos os centros envolvidos, incluindo o papel de órgãos públicos federais como o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), estaduais e municipais, e fazer um levantamento dos biorrepositórios já existentes no país.
O passo inicial se deu em junho, com a realização de uma oficina virtual que reuniu cerca de cem pessoas. “Neste momento não queremos criar nada novo, mas sim mapear a diversidade de atores e fazer com que eles se conheçam”, diz Dias. Como houve muito interesse dos participantes em dar continuidade aos encontros, uma segunda oficina foi marcada para outubro.
A fase seguinte será definir as regras de acesso e uso dos dados para permitir o compartilhamento das amostras, incluindo como deve ser feito o envio, o depósito e a utilização, além da rastreabilidade da informação fornecida por um doador. Além disso, será preciso treinar e capacitar os profissionais envolvidos para que eles possam identificar animais que são importantes para o projeto, tendo como foco os patógenos de interesse, quais sintomas observar, o que e como coletar, como conservar o material e como enviá-lo, entre outros pontos.
Essas etapas permitirão lançar as bases para um indexador nacional com amostras de animais que podem servir de reservatórios para patógenos com potencial de causar doenças em humanos. Uma das propostas é que o banco de dados seja o alicerce de um biorrepositório nacional da biodiversidade capaz de abranger não apenas patógenos causadores de doenças zoonóticas, mas também aqueles que ameaçam a biodiversidade, explica Dias. Isso vai ajudar a melhorar a vigilância e abrangência sobre esses microrganismos, trazendo mais informações sobre as doenças.
O projeto se insere no conceito de Saúde Única, que considera que a saúde de humanos, animais e meio ambiente são interdependentes e que cuidar de cada aspecto é essencial para garantir o bem-estar de todos.