O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) promoveu, no dia 2 de dezembro, o painel "Tecnologia e Inovação na Gestão de Emergências em Saúde Pública" no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2025), realizado no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), em Brasília.
A mesa, moderada pelo diretor-presidente do ITpS, Gerson Penna, reuniu a Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão; o representante da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) no Brasil, Cristian Morales Fuhrimann; e o Secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz. Os participantes falaram sobre os desafios da vigilância, da integração de tecnologias e da necessidade de uma política de Estado para emergências em saúde pública.



Integração e cooperação para fortalecer a resposta global
O representante da Opas, Cristian Morales Fuhrimann, apresentou a estratégia PahoGen, voltada à articulação das redes de vigilância genômica das Américas. Ele destacou que a cooperação internacional é essencial para preparar os países para novas pandemias. "Não sabemos quando, mas é uma certeza que outras emergências vão acontecer", afirmou.
Cristian explicou que a vigilância genômica regional foi consolidada a partir das lições da pandemia de covid-19 e busca garantir equidade no acesso a diagnósticos, vacinas e tratamentos. "A estratégia tem foco na prevenção, preparação e resposta às futuras pandemias, com ênfase na cooperação e no compartilhamento de dados entre países", disse. Ele ressaltou que o Brasil tem papel estratégico nessa rede, por abrigar uma das maiores infraestruturas laboratoriais da região.




Experiência do Rio de Janeiro e uso de dados em tempo real
O secretário municipal de saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, relembrou o contexto de crise durante a pandemia de covid-19 e a importância de basear decisões em evidências científicas. "Respeitar o conhecimento institucional é básico", afirmou. "Um governo que respeita as sugestões do comitê científico na hora de tomar decisões, salva vidas."
Soranz também compartilhou a experiência da criação do Centro de Inteligência Epidemiológica (CIE) da cidade, iniciativa pioneira no país. Ele destacou que o uso de tecnologias de análise de dados e inteligência artificial tem transformado a gestão pública. "Hoje temos um data lake que reúne informações de todos os prontuários eletrônicos do município, o que nos permite gerar dados e evidências em tempo real para conduzir o sistema e enfrentar crises."
Segundo o secretário, a integração de dados clínicos, laboratoriais e ambientais tem fortalecido a vigilância e permitido respostas mais rápidas e coordenadas. "É uma capacidade que mudou completamente a forma de gerir a saúde pública", disse.




Política de Estado para o enfrentamento de emergências
Encerrando o painel, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, enfatizou a urgência de consolidar uma estrutura permanente de preparação e resposta no Brasil. "O status quo hoje é insuficiente. Capacidades críticas não se montam durante uma crise", alertou.
Mariângela lembrou que a pandemia de covid-19 evidenciou as limitações jurídico-orçamentárias e a fragmentação federativa do sistema, reforçando a necessidade de uma política de Estado imune a transições de governo. "Precisamos de um marco legal que garanta estabilidade, continuidade entre gestões e autonomia técnica para responder com rapidez e eficiência às emergências", afirmou.
Ela explicou que o Ministério da Saúde vem coordenando grupos de trabalho para propor a criação dessa nova institucionalidade, que deve ser vinculada ao Ministério, mas com agilidade técnica e sustentabilidade econômica, além de incorporar ciência, tecnologia, inovação e comunicação de risco como eixos estruturantes.




Importância estratégica do tema
Ao conduzir o debate, Gerson Penna ressaltou que o painel simboliza a convergência entre ciência, gestão e política pública. "A pandemia mostrou que o país precisa de estruturas estáveis, baseadas em evidências e com capacidade de coordenação nacional", afirmou.
Penna destacou que, atualmente, o Brasil não dispõe de legislação ativa para fazer macro gestão das novas pandemias, já que a lei emergencial da covid-19 deixou de vigorar. "O que menos queremos é repetir os mesmos erros. Precisamos de uma política de Estado que garanta previsibilidade e preparo contínuo para proteger a população", completou.
O painel encerrou reforçando a mensagem comum entre os participantes: que a fase de preparação, integração e continuidade institucional, é essencial para o país não reviva fragilidades já conhecidas.



