Maiquel Rosauro / Agência Lupa
Circula pelas redes sociais a informação de que um vírus do câncer foi encontrado em vacinas contra covid-19. A publicação segue com um vídeo de um trecho de uma entrevista do cardiologista norte-americano Peter A. McCullough, no qual sustenta que a presença do Vírus Símio 40, conhecido como SV40, em vacinas contra poliomielite, causou câncer em 98 milhões de pessoas nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1970. As informações são falsas.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
FALSO
Não há comprovação científica de que vacinas da covid-19 de tecnologia RNA mensageiro - como a da Pfizer - causem câncer. A alegação de que o SV40 está associado ao câncer remonta a relatos iniciais de contaminação em vacinas contra a poliomielite usadas entre as décadas de 1950 e 1960, entretanto estudos científicos nunca comprovaram uma relação causal.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa, em nota, que os argumentos apresentados na postagem não possuem fundamentação. “Todas as vacinas autorizadas pela Anvisa para covid-19 possuem dados positivos de eficácia e segurança”, diz a Agência. O Ministério da Saúde também se manifestou sobre o assunto no Twitter, onde esclareceu que as vacinas não causam câncer. "Nenhum imunizante aprovado pela Anvisa e ofertado à população contém substâncias tóxicas que causam câncer, eles não provocam mutações em células e não geram tumores cancerígenos".
Além disso, não há evidências para afirmar que a vacina contra a poliomielite tenha causado câncer, nem de que tenha aumentado a incidência da doença.
No vídeo que circula pelas redes, o entrevistador afirma em inglês que viu documentos federais estimando que 98 milhões de americanos tiveram câncer relacionado ao Vírus Símio 40, ou SV40, devido a vacinas contra poliomielite contaminadas nas décadas de 1950, 1960 e 1970. A confirmação também é dada pelo cardiologista Peter A. McCullough, que diz que as injeções contaminadas promoveram o câncer por meio do SV40. As informações também são falsas.
Um artigo do Centro Nacional de Biotecnologia e Informação (NCBI), dos Estados Unidos, estimou que entre 10% a 30% das 98 milhões de doses de vacinas aplicadas contra poliomielite entre 1955 e 1963 poderiam ter o SV40. O vírus veio de culturas de células renais de macaco usadas para fazer as vacinas contra a poliomielite naquela época. Porém, o mesmo estudo indicou que não é possível saber quantas pessoas foram contaminadas – e se foram contaminadas.
Estudos em grupos de pessoas que receberam a vacina contra a poliomielite durante 1955-1963 fornecem evidências de que não há aumento no risco de câncer. “A maior parte da contaminação ocorreu na vacina inativada contra a poliomielite, mas também foi encontrada na vacina oral contra a poliomielite. Depois que a contaminação foi descoberta, o governo dos EUA estabeleceu requisitos de teste para verificar se todos os novos lotes de vacinas contra a poliomielite estavam livres de SV40”, explica o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
De acordo com o CDC, a maioria dos estudos que analisam a relação entre SV40 e câncer é tranquilizadora, não encontrando nenhuma associação causal entre o recebimento da vacina contra a poliomielite contaminada com SV40 e o desenvolvimento de câncer. “Nenhuma vacina usada hoje contém o vírus SV40”, informa o CDC.
Um outro artigo científico, publicado em 1998 no Journal of the American Medical Association (JAMA), mostra que, após mais de 30 anos de acompanhamento, a exposição à vacina contra poliovírus contaminada com SV40 não foi associada a taxas significativamente aumentadas de casos de câncer nos Estados Unidos.
Partes desse conteúdo também foi verificado por Projeto Comprova, AP News e Health Feedback.
Nota: este conteúdo foi produzido pela Lupa com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). Para ler o texto no site da Lupa, clique aqui.