Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e do Hospital Israelita Brasileira Albert Einstein mostra que moradores das regiões mais pobres da cidade de São Paulo têm mais chances de ter reinfecção por covid-19. O trabalho, que analisou 73.741 casos confirmados da doença na capital paulista, aponta que a zona leste apresentou a taxa mais alta de reinfecção (9,6%), enquanto a região central, mais rica, registrou o menor índice (6,4%). A diferença representa um risco 50% maior entre os extremos socioeconômicos da cidade.
A pesquisa foi publicada na revista Open Forum Infectious Diseases e demonstra como a desigualdade social se traduz em falta de equidade em saúde. Segundo os pesquisadores, fatores como baixa renda, menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e maior presença de favelas estão diretamente associados às taxas mais elevadas de reinfecção.
Ao analisar os dados, os pesquisadores constataram que os extremos da cidade (leste, norte e sul) concentram as maiores taxas de reinfecção, coincidindo com regiões de maior vulnerabilidade social. Em contraste, a área central, com melhor infraestrutura, serviços e indicadores sociais, registrou os menores índices.
"Os resultados demonstram que as emergências sanitárias impactam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, demandando estratégias robustas de vigilância epidemiológica e políticas públicas comprometidas em garantir a equidade e a proteção social dos grupos mais fragilizados", explica Daniel Tavares Malheiro, pesquisador do Einstein e um dos autores do estudo.
Variantes
O estudo também mostrou que variantes da Ômicron foram responsáveis por 97% das reinfecções, sendo as subvariantes XBB, XBB.1.5 e XBB.1.16 as mais presentes, em 37,2% dos casos. "Essas subvariantes acumularam mutações específicas na proteína spike, o que ampliou a capacidade de reinfectar pessoas que já haviam adquirido imunidade por infecção ou vacinação. Por isso elas responderam por mais de um terço das reinfecções e causaram também o aumento do número de testes positivos no período", explica Marcelo Bragatte, pesquisador científico do ITpS e um dos autores do paper. "Os resultados reforçam que o enfrentamento eficaz de novas variantes, como as subvariantes XBB da Ômicron, depende não só do monitoramento genômico constante, mas também de estratégias que reduzam desigualdades sociais e fortaleçam a vigilância epidemiológica.