O trabalho Sequelas respiratórias pós-covid-19 dois anos após hospitalização: um estudo ambidirecional, desenvolvido por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), teve financiamento do Instito Todos pela Saúde (ITpS) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi publicado na revista The Lancet Regional Health Americas.
Métodos
Uma coorte de pacientes com covid-19 internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, entre março e agosto de 2020, foram acompanhados de 6 a 12 meses após a alta hospitalar. O subconjunto de pacientes com envolvimento pulmonar e tomografia computadorizada (TC) de tórax eram elegíveis para participar do segundo acompanhamento (18 a 24 meses). Os dados foram analisados de forma ambidirecional, incluindo dados retrospectivos da internação e do primeiro acompanhamento (6 a 12 meses após a alta), e em comparação com os dados prospectivos coletados no novo acompanhamento.
Achados
Dos 348 pacientes elegíveis, 237 (68%) participaram do acompanhamento. Entre os participantes, 139 (58%) pacientes apresentavam opacidades e reticulações em vidro fosco e 80 (33%) apresentavam lesões fibróticas (tração bronquiectasia e distorção arquitetônica). Cinco (2%) pacientes melhoraram em comparação com a avaliação de 6 a 12 meses, mas 20 (25%) de 80 apresentaram piora das anormalidades pulmonares. Para aqueles com avaliações relevantes em ambas as ocasiões, comparando os achados tomográficos desse acompanhamento com a avaliação anterior, houve aumento em pacientes com distorção arquitetônica (43 [21%] de 204 vs 57 [28%] de 204, p = 0,0093), bem como em tração bronquiectasia (55 [27%] de 204 vs 69 [34%] de 204, p = 0,0043). Os pacientes apresentavam um quadro funcional persistente comprometimento com padrão restritivo demonstrado em ambos os acompanhamentos (87 [42%] de 207 vs 91 [44%] de 207, p = 0,76), bem como para a capacidade de difusão reduzida (88 [42%] de 208 vs 87 [42%] de 208, p = 1,0). Comprimento de internação (OR 1,04 [1,01–1,07], p = 0,0040), ventilação mecânica invasiva (OR 3,11 [1,3–7,5] p = 0,011), idade do paciente (OR 1,03 [1,01–1,06] p = 0,0074 foram preditores consistentes para o desenvolvimento de doença pulmonar semelhante a fibrótica lesões em pacientes pós-covid-19.
Interpretação
As sequelas pulmonares pós-covid-19 podem persistir e progredir após a alta hospitalar, sugerindo vias aéreas envolvimento e formação de novas lesões fibróticas, principalmente em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI).