Um estudo conduzido pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo, Instituto Capixaba de Ensino, Universidade Federal de Goiás, Universidade de Brasília, entre outras instituições, demonstrou que é possível identificar sinais precoces de surtos de doenças infecciosas com até cinco semanas de antecedência a partir da análise de dados públicos de ocupação de unidades de saúde disponibilizados pelo Google Maps.
Para a pesquisa, foi analisado o comportamento de 17 unidades de pronto atendimento da Região Metropolitana de São Paulo entre julho de 2023 e outubro de 2024, correlacionando as variações de lotação com dados laboratoriais de infecções por vírus respiratórios (como SARS-CoV-2 e influenza) e dengue. O resultado mostra que picos de ocupação nas unidades de saúde precederam o aumento de casos confirmados de doenças respiratórias e arboviroses em até cinco semanas.
"Esse é um avanço importante para a vigilância epidemiológica, porque oferece um sinal de alerta precoce a partir de informações que já estão disponíveis em tempo real e sem violar a privacidade dos cidadãos", explica Vanderson Sampaio, pesquisador do ITpS e autor principal do estudo. "Ao usar dados abertos do Google Maps, conseguimos identificar anomalias na ocupação de unidades de saúde que se correlacionam diretamente com períodos de aumento de infecções."
Para os pesquisadores, o método tem potencial para complementar os sistemas tradicionais de vigilância, que costumam ter atrasos no registro e notificação de casos. A abordagem baseada em dados de mobilidade e ocupação também pode contribuir para uma resposta mais rápida de gestores de saúde, permitindo o redirecionamento de recursos antes que o sistema seja sobrecarregado.
"Trata-se de uma solução de baixo custo, escalável e facilmente aplicável em diferentes contextos, especialmente em países onde os sistemas de notificação são mais lentos ou fragmentados", destaca Sampaio. "Nosso objetivo é que esse tipo de indicador se torne um componente operacional das estratégias de resposta a surtos", complementa.
O estudo também demonstra que, mesmo após a redução da demanda geral, determinadas regiões permanecem como "pontos quentes" de sobrecarga, evidenciando desigualdades estruturais no acesso à saúde e reforçando a importância do monitoramento contínuo.
Sobre o ITpS
O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) é uma entidade sem fins lucrativos criada em fevereiro de 2021 com o objetivo de ajudar o Brasil a articular redes e desenvolver competências que auxiliem no preparo para o enfrentamento das futuras emergências sanitárias, como surtos, epidemias e pandemias.
Os trabalhos foram iniciados com um aporte de R$ 200 milhões feito com recursos da iniciativa Todos pela Saúde, criada em 2020 e que teve o Itaú Unibanco como principal doador. O ITpS tem como associada mantenedora a Fundação Itaú e como associados a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Nacional de Medicina (ANM), a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e a Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês.