Ana Lúcia Azevedo / Rio de Janeiro
Se não bastasse o crescimento de casos de dengue e chikungunya no Brasil, os casos de infecção simultânea pelos dois vírus, uma condição que se considerava rara, tiveram um aumento tão expressivo que surpreendeu cientistas. Uma análise de vigilância genômica e epidemiológica de arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) realizada no país revelou que os casos de chikungunya aumentaram sete vezes e os de dengue, três vezes, em 2023 em relação a 2022.
Porém, o que impressiona é a taxa de 11% de casos de pessoas infectadas ao mesmo tempo em Minas Gerais pelos dois vírus, percentual considerado muito alto e cujas causas e consequências ainda não são bem conhecidas.
O coordenador do estudo, Renato Santana, pesquisador do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que as taxas de coinfecção no Brasil, em ocasiões em que aconteceram picos de dengue, chikungunya e zika, ficaram em 2%.
— O que observamos este ano de fato é uma taxa elevada — ressalta Santana.
Nos casos de coinfecção por dengue e chikungunya, a primeira parece levar a melhor na batalha para dominar o corpo da pessoa infectada. A carga viral (a quantidade de vírus) do vírus da dengue é maior nesses pacientes. Uma possibilidade é que os vírus da dengue consigam interferir na replicação do vírus chikungunya. Mas, por ora, tudo isso é hipótese. Os pesquisadores farão estudos em modelos animais para ver se há alteração nos sintomas, se existe interação entre os vírus e em que medida isso altera o quadro clínico.
Casos de coinfecção, por serem raros no passado, não são bem conhecidos e muito ainda se precisa investigar sobre sua evolução e gravidade. Não existem indícios de que sejam mais graves.
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O estudo brasileiro foi realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o setor de Pesquisa e Desenvolvimento do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury e analisou 62.000 diagnósticos de síndromes febris, realizados em 2022 e 2023. As amostras representam todas as regiões do país e vieram dos estados de 14 estados, incluindo os quatros mais populosos, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
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— É certo que isso significa que há muito vírus e mosquito circulando — destaca Santana, cuja pesquisa teve o financiamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e Ministério da Ciência e Tecnologia.
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