O aumento nos casos de covid-19 nas últimas semanas fez voltar ao radar das autoridades de saúde um problema que parecia esquecido. Os testes positivos para o coronavírus mais que dobraram entre a primeira e a terceira semana de agosto, segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Números parecidos foram detectados pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS): crescimento de 7% para 15,3% entre 22 de julho e 19 de agosto.
Cautelosos, os cientistas evitam atribuir os novos casos à variante EG.5, sublinhagem da Ômicron conhecida como Éris, mas a alta coincide com a chegada dela ao país. No último dia 18, o Ministério da Saúde confirmou em São Paulo o primeiro caso. Depois houve notificações no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Tudo dentro do esperado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Éris tornou-se predominante no mundo, tendo sido registrada em pelo menos 51 países.
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Diante do aumento de casos, algumas instituições têm retomado medidas de prevenção, como a obrigatoriedade do uso de máscaras. É um exagero. Máscaras são indicadas apenas para os mais vulneráveis. Para o público, a melhor forma de se proteger é procurar os postos de vacinação, onde as doses estão disponíveis gratuitamente.
Pode surpreender, mas vacinar a população se tornou um problema mais desafiador que a doença em si. Apesar da tragédia que o Brasil viveu, com mais de 700 mil mortes, a imunização com a vacina bivalente — recomendada para subvariantes da Ômicron — tem sido decepcionante. Menos de 16% do público-alvo está protegido, quando o ideal seria 95%. O percentual esconde disparidades. São Paulo vacinou 20,8%, Roraima apenas 6,7%.
É compreensível que a volta à normalidade depois de um período difícil de restrições crie a falsa sensação de que não há mais riscos. Isso acontece também com outras doenças controladas pela vacinação. Mas o coronavírus não foi embora, e as variantes continuam a surgir. Felizmente, o mundo tem uma arma poderosa para combatê-lo, a vacina. É essencial tomar as doses recomendadas para que se mantenha o cenário de tranquilidade.
Ao mesmo tempo, Ministério da Saúde, estados e municípios precisam se empenhar mais. O governo deveria implementar uma política nacional para aplicar os reforços em quem tomou as demais doses — com busca ativa do público-alvo se necessário. O Brasil tem vasta experiência de sucesso em campanhas de vacinação, não pode se contentar com desempenho tão sofrível num caso tão evidente.