Quantas pessoas realmente morreram em São Paulo em decorrência do SARS-CoV-2? Qual foi a taxa de subnotificação, em especial no início da pandemia? Estruturado em quatro pilares, o projeto Reavaliação da mortalidade por causas naturais no município de São Paulo durante a pandemia, o Recovida, teve o objetivo central de responder essas questões.
Saber exatamente quais são as taxas de infecção, agravamento da doença e morte é fundamental em uma emergência sanitária, pois subsidia os governos na tomada de decisões que impactam a vida de toda a população. A qualidade da informação sobre os óbitos também é essencial para a compreensão do impacto da pandemia em termos demográficos e sociais. Nos primeiros meses após a chegada do novo coronavírus no Brasil, a escassez de testes e a baixa qualidade dos produtos desenvolvidos até então fizeram com que uma parte dos contaminados morresse sem ter o diagnóstico correto.
Coordenado por Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o Recovida investigou as mortes consideradas suspeitas de covid-19 mas não confirmadas, possibilitando a atualização dos números conforme a pandemia avançava e também reclassificando as causas dos óbitos no sistema da cidade. Segundo o estudo, nos primeiros meses da crise sanitária houve 13% de subnotificação.
O projeto ajudou a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo a integrar diferentes bases de dados: do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), que observa casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag), e do eSUS Vigilância Epidemiológica (eSUS-VE). Para a integração, os pesquisadores utilizaram técnicas de Recorde Link (RL), processo de combinação de registros de um mesmo indivíduo nessas diferentes bases de dados.
Em parceria com a secretaria, a equipe de Lotufo trabalhou na criação de um algoritmo para realizar a integração, de modo a criar um sistema fácil para uso contínuo do Município.
A cidade já dispunha de um sistema estabelecido para computação dos dados, mas havia pouca agilidade, por utilizava procedimentos manuais. Segundo testes realizados até o primeiro semestre de 2021, o algoritmo desenvolvido pelo grupo faz em cinco minutos o trabalho que antes demandava um dia inteiro.
O Recovida teve também outros três pilares:
Ao lado da Faculdade de Medicina, FAU, Fesp-SP e FGV, participaram da pesquisa profissionais das faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), de Saúde Pública (FSP) e de Economia e Administração (FEA), do Hospital das Clínicas, do Hospital Universitário da FM, do Instituto de Matemática e Estatística (IME), todos ligados à USP.
Artigo publicado:
Mortalidade por COVID-19 padronizada por idade nas capitais das diferentes regiões do Brasil (clique aqui)
Recursos investidos: R$ 500.000,00
Instituição: Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
Crédito da imagem: Isabel Barboza e Laura Salatino/Divulgação Epicovid-19