O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) analisou 118.638 testes de covid-19 feitos pelos laboratórios DB Molecular e Dasa entre 5/12/21 e 19/3/22. Nas últimas três semanas observou-se aumento da proporção de casos suspeitos de BA.2 (perfil SGTP): de 3,8 para 27,2% das amostras positivas.
Genomas da sublinhagem BA.1 da Ômicron não têm os códons 69 e 70 do gene S. A falta desse fragmento faz com que testes RT-PCR Thermo Fisher falhem na detecção desse gene (SGTF, S gene target failure), porém outros genes são detectados (ORF1ab e N), garantindo o diagnóstico.
Desde dezembro de 2021, o ITpS tem utilizado dados de testes RT-PCR Thermo Fisher para distinguir amostras com indicativo da Ômicron BA.1. Isso é possível pois o RT-PCR funciona como um sistema de buscas, e a falha na detecção de um dos alvos (o gene S) é indicativo da BA.1.
Numa analogia, genomas de variantes seriam como um poema que sofre pequenas modificações ao longo do tempo (exemplo abaixo). A falta de um pedaço dos genomas das variantes Alfa e Ômicron BA.1 torna possível distingui-las das demais variantes já durante a busca feita pelo RT-PCR.
Usando esse tipo de RT-PCR especial, entre 27/2 e 19/3 observou-se queda da prevalência da Ômicron BA.1 (de 96% para 72,8%, em verde). Isso indica aumento da prevalência de amostras com perfil SGTP (gene S detectado, em cinza), característico da sublinhagem BA.2.
Até o fim da semana 11 (dia 19/3), o banco de dados Gisaid apontava 131 casos da sublinhagem BA.2 no Brasil. Com dados de testagem da última semana, observamos casos compatíveis com a BA.2 (SGTP, em cinza) em todas as faixas etárias.
Abaixo vemos estados e municípios com detecção de casos prováveis da Ômicron BA.2 desde 1/2/2022. Neste período, pelo menos 236 casos com perfil SGTP (gene S detectado) foram identificados. Apesar da disseminação da BA.2, em nível nacional a positividade de testes segue baixa (4,5%).
A disseminação da sublinhagem BA.2 da Ômicron se dá num momento de relaxamento das medidas de controle da pandemia (desobrigação de máscaras em ambientes fechados, entre outras). Ainda é incerto se um novo aumento de casos irá ocorrer, mas não é possível descartar.
Os impactos da BA.2 no Reino Unido e África do Sul foram distintos: aquele observou aumento do número de casos e hospitalizações, enquanto este não. Aspectos de imunidade populacional e demográficos podem explicar esses padrões.
Com a disseminação da BA.2 no Brasil, mesmo com uma eventual subida do número de casos, é provável que vejamos a substituição da BA.1 pela BA.2, no entanto, sem causar os mesmos impactos que a BA.1 gerou, num modo similar à substituição da Gama pela Delta.
É importante seguir monitorando a disseminação da BA.2, e observar atentamente quais serão seus impactos. Em caso de sinais de reversão do cenário, incluindo aumento de hospitalizações, uma resposta rápida será essencial, com revisão das flexibilizações adotadas recentemente.
O ITpS agradece aos laboratórios privados de diagnóstico DB Molecular e Dasa, que gentilmente disponibilizaram dados de testagem (Thermo Fisher) para nos ajudar a ter uma visão mais apurada do cenário atual.