O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) apresenta a seguir o cenário epidemiológico da covid-19 no Brasil e no mundo nas últimas 10 semanas. Para as análises, o ITpS utilizou dados do Ministério da Saúde, da Johns Hopkins University e do Gisaid.
Para avaliar o cenário epidemiológico da covid-19 nos estados brasileiros, apresentamos acima a taxa semanal de casos por 100 mil habitantes, utilizando esquema de faixas de incidência similar ao do Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC).
As taxas de casos de covid-19 têm aumentado muito desde o fim de novembro. Naquele período, 33,9% (40/118) das macrorregiões de saúde (grupos de municípios) tinham alta incidência (>100 casos por 100 mil habitantes). Na última semana, 70,3% delas (83/118) apresentaram altas taxas.
Nas últimas semanas, com exceção dos estados de SP, MS, PA, AM, MA e PI, todos os outros apresentam aumento expressivo nas taxas de casos. No ES, DF, GO e MT, as incidências atingiram níveis acima de 300 casos por 100 mil habitantes (e acima de 500 em algumas macrorregiões).
Dos 5.297 municípios que enviaram dados na última semana, 2.552 deles (48,2%) apresentaram mais de 100 casos por 100 mil habitantes. Cerca de 47% da população brasileira vive nesses municípios com alta incidência e hoje está exposta a altos níveis de transmissão viral.
Outra métrica que reflete o aumento de casos é a taxa de positividade de testes, que o ITpS analisa em seus relatórios com base em dados de laboratórios privados. Desde o início de novembro observamos altas taxas de positividade em todas as faixas etárias.
Estamos há seis semanas com positividades maiores que 30% em faixas etárias acima de 19 anos. Nas duas primeiras semanas de dezembro, faixas entre 49 a 79 anos apresentaram taxas de positividade superiores a 50%.
Com dados disponíveis no Gisaid, avaliamos quais linhagens do SARS-CoV-2 circulam nas diferentes regiões brasileiras. Os dados brasileiros que apresentamos abaixo foram gerados por Dasa, Fiocruz, LNCC, Lacens (MG/BA/ES/RS), Instituto Butantan, Adolfo Lutz e HLAGyn, entre outras instituições.
Os dados disponíveis provêm de amostras coletadas entre 9/10 e 17/12/2022. Os dados revelam que, no intervalo dos últimos dois meses, as sublinhagens BA.5* perderam predomínio para sublinhagens BQ.1*, hoje a principal variante em circulação no país.
Na última semana (de 10/12 a 17/12/2022), elevadas taxas de casos de covid-19 também foram observadas em pelo menos outros 30 países (destacados em vermelho no mapa), que apresentam hoje incidências semanais acima de 100 casos por 100 mil habitantes.
No mapa de calor à direita, temos os 20 países com as maiores incidências nas últimas 10 semanas, como Taiwan (TWN), Hong Kong (HKG), Coreia do Sul (KOR), Grécia (GRC) e Nova Zelândia (NZL), além de outros 15 países identificados por seus códigos alfa-3 (ISO 3166-1).
O aumento no número de casos em regiões pelo mundo levanta a pergunta: quais linhagens virais (variantes) têm causado essa alta? Acima temos respostas para as últimas 10 semanas nos 20 países com maiores taxas de incidência de covid-19, citados anteriormente.
Na Ásia, em locais como Taiwan (TWN), Hong Kong (HKG), Coreia do Sul (KOR), Singapura (SGP) e Japão (JPN), as linhagens BA.5* e suas sublinhagens (como BQ.1*, BF.5 e BF.7), BA.2.75* e a recombinante XBB têm sido as principais responsáveis pela maioria dos casos.
O cenário na China é incerto. Desde 9/10/2022, apenas 16 genomas foram gerados no país. Localidades próximas, como Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul, que enfrentam altas incidências, compartilharam dados genômicos no período e servem de base para entender o cenário chinês.
Na Europa, em países como Grécia (GRC), França (FRA), Áustria (AUT), Eslovênia (SVN) e Alemanha (DEU), a composição de linhagens circulantes tem participação importante das linhagens BQ.1* (derivadas da BA.5.3), seguidas por BF.7, linhagens BA.5* e BA.2.75.
Nas Américas, além do Brasil, países como Chile (CHL), Bolívia (BOL), Peru (PER), Panamá (PAN) e EUA (USA) enfrentam altas incidências (acima de 100 por 100 mil hab.) há três semanas. Nesses países, as principais variantes circulantes são BQ.1*, BA.4.6 e sublinhagens da BA.5*.
Nos últimos meses, as ondas de covid-19 pelo mundo têm sido geradas por diversas linhagens e sublinhagens da Ômicron, incluindo variantes recombinantes. É importante acompanhar o cenário epidemiológico no mundo, pois ele pode antecipar padrões relevantes ao Brasil.
No atual cenário de alta incidência na maioria dos estados brasileiros, o risco de infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 é alto e requer atenção, em especial dos mais vulneráveis, idosos, imunosuprimidos e os não vacinados (incluindo crianças). O uso de máscara em locais fechados e/ou lotados é recomendável.
O ITpS agradece aos laboratórios das instituições Dasa, Fiocruz, LNCC, Lacens (MG/BA/ES/RS), Instituto Butantan, Adolfo Lutz, HLAGyn e as demais instituições responsáveis pelo sequenciamento de genomas de SARS-CoV-2 nas últimas 10 semanas no Brasil e no mundo.
Agradecemos também aos laboratórios privados DB Molecular, HLAGyn, Dasa e Sabin, que gentilmente disponibilizaram dados de testagem (RT-PCR e Flow Chip) para nos ajudar a ter uma visão mais apurada do cenário atual da epidemia de covid-19 no Brasil.
We gratefully acknowledge all data contributors, i.e. the Authors and Originating labs, responsible for obtaining the specimens, and their Submitting labs for generating the genetic sequence and metadata and sharing via the GISAID Initiative (*), on which this research is based.
* Elbe, S., and Buckland -Merrett, G. (2017) Data, disease and diplomacy: GISAID’s innovative contribution to global health. Global Challenges, 1:33-46. DOI: 10.1002/gch2.1018
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/gch2.1018