A positividade de testes para dengue tem oscilado em diferentes estados brasileiros. As análises são do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) com dados de 172.505 exames diagnósticos feitos entre 5/3/23 e 9/3/2024 por Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab, HLAGyn e Sabin.
Ao longo das últimas semanas, tivemos acesso a um volume maior de resultados de exames para arbovírus realizados nos últimos 12 meses. Em sua maioria, os dados se referem a testes diagnósticos para dengue, em especial testes de antígeno (NS1) e PCR.
Os novos dados vêm principalmente das regiões Centro-Oeste e Sudeste (gráfico abaixo). Com isso, agora temos mais informações sobre o início dos atuais surtos de dengue. Junto com a demanda por testes, a positividade vem subindo desde o início de novembro/2023.
Com base em dados do setor privado, observamos importantes diferenças cronológicas nos surtos em diferentes estados. No Distrito Federal (DF), por exemplo, o aumento na positividade de testes se iniciou ainda na semana epidemiológica 44 de 2023 (de 29/10 a 4/11/2023).
No DF, a positividade subiu de 7,5% no início de novembro/2023 para 48,6% na primeira semana de 2024, fato que foi seguido pela decretação de situação de emergência naquela UF. A positividade no DF caiu em janeiro e fevereiro, chegando a 20% no início de março.
Essa redução da positividade de testes no DF, no entanto, não aparenta ser duradoura. Na última semana analisada, encerrada em 9/3/2024, observamos um novo aumento (a 27,4%), que pode estar associado a nova elevação no número de casos recentes.
Vemos acima que o agravamento dos surtos de dengue em diferentes estados e regiões brasileiras não tem ocorrido de forma sincronizada. Em algumas localidades observamos aumentos nos testes positivos, enquanto em outras, quedas (como no DF).
Essa variação entre os estados também se reflete em dados do setor público. Com dados do Ministério da Saúde, ajustados pelo InfoDengue, vemos que o número de casos no DF começou a crescer no fim de novembro/23, mas vem caindo desde o fim de janeiro/24.
Essa queda também é observada entre os testes positivos do setor privado (gráfico abaixo), o que explica a diminuição da positividade (vide DF no gráfico de linhas acima). No entanto, como citamos, há sinais de nova subida de positividade, exigindo atenção nas próximas semanas.
No estado de São Paulo, segundo estimativa do InfoDengue, os casos só começaram a subir no início de janeiro/24, com aumentos importantes ao longo de fevereiro. Comparando SP e DF, vemos diferenças na dinâmica da dengue.
Com dados obtidos com os laboratórios parceiros, vemos que os testes positivos em SP começaram a subir na virada do ano, com um aumento expressivo ao longo de janeiro e fevereiro, fato que explica o crescimento na positividade de testes (vide SP no gráfico de linhas).
Abaixo temos as positividades calculadas com dados do setor privado, num perfil comparativo de 2022, 2023 e 2024. Nesse gráfico, vemos o início antecipado dos surtos em novembro/23 e a queda da positividade influenciada por dados do DF.
Como já citado, a queda recente na positividade parece não se sustentar, em especial frente aos recentes aumentos nos casos em estados como Minas Gerais e São Paulo, que decretaram emergência em saúde pública nas últimas semanas.
Considerando as diferentes características ambientais dos estados brasileiros, as condições favoráveis para a disseminação da dengue podem emergir em períodos distintos. Logo, estados que hoje não enfrentam grandes surtos de dengue devem ficar atentos.
Outra forma de visualizar os dados é com o uso de mapas. Abaixo, vemos de forma cumulativa que os testes positivos para dengue têm sido cada mais reportados em estados e municípios desde o fim de outubro de 2023, quando a positividade começou a aumentar.
Como dito na seção 1, nossos dados ainda não são geograficamente representativos. Esforços estão sendo feitos para agregar novos parceiros, e assim capturar melhor o cenário de todo o país.
Ainda com as limitações de dados de norte, nordeste e sul, a análise espacial acima revela de forma qualitativa que o vírus da dengue segue avançando, e hoje provoca casos de dengue em todo o país, em ritmos distintos, como evidenciamos na seção 2 deste relatório.
Infecções pelo vírus da dengue afetam todas as faixas etárias. Abaixo temos gráficos que apresentam resultados de testes positivos (antígeno e PCR) por faixas etárias de 0 a mais de 80 anos. Na visualização também fica evidente o aumento de casos desde o fim de 2023.
Entre os indivíduos testados, a maioria dos exames positivos tem se concentrado em indivíduos de 30 a 59 anos, que são as faixas etárias mais testadas.
Com relação à positividade de testes, vemos abaixo que esse indicador subiu de forma homogênea em todas as faixas etárias e se manteve em patamares altos (>35%) entre janeiro e meados de fevereiro.
Após um período momentâneo de queda na positividade em meados de fevereiro, influenciada principalmente pelos dados do DF, observa-se agora novo aumento em estados como MG e SP e também em faixas etárias específicas.
Analisamos também resultados de testes que detectam outros arbovírus em circulação, como Zika, Chikungunya e Oropouche. Abaixo temos o número de testes positivos (PCR, antígeno e IgM) para esses vírus, por faixa etária ao longo dos últimos meses.
Esta análise de dados em tempo oportuno apresenta indicadores para dengue que tem superado e antecipado os números reportados em 2022 e 2023. Emitiremos esses relatórios regularmente, acompanhando a tendência ao longo dos próximos meses e fornecendo dados atualizados que possam ajudar no monitoramento dos surtos.
Este relatório apresenta dados que não representam todas as unidades federativas de forma homogênea, e não tem ajuste populacional, dado o baixo número global de diagnósticos.
A dengue é uma doença vetorial, transmitida por mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, e neste momento, apesar do recente lançamento da campanha de vacinação, a principal forma de controle ainda é o combate ao vetor. Sendo assim, precisamos eliminar os criadouros, removendo recipientes que acumulam água.
Fique atento dentro e fora da sua casa, verifique locais que podem ser foco desses mosquitos e, se necessário, comunique a vigilância da sua cidade sobre terrenos baldios que podem conter criadouros.
Em caso de sintomas como febre, dor de cabeça, dor no corpo e/ou manchas na pele, busque prontamente um serviço de saúde. Fique atento a sinais de alerta da forma grave como: dor abdominal intensa, vômitos persistentes e sangramento de mucosa. Nesse caso, busque imediatamente um serviço de saúde.
Quando disponível, é crucial que pessoas elegíveis se vacinem contra a dengue conforme orientações do Ministério da Saúde. A vacinação e o controle vetorial são fundamentais para prevenir e proteger sua saúde.
O ITpS agradece aos laboratórios parceiros, Sabin, Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab e HLAGyn, que gentilmente fornecem dados de testes para compreendermos o cenário epidemiológico da dengue e de outras arboviroses.