Monitorar infecções causadas por vírus e bactérias, em tempo oportuno, para informar com agilidade governos, entidades e a população, colaborando com a tomada de decisões de saúde pública. Esse é o objetivo dos monitoramentos realizados pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e por laboratórios parceiros desde dezembro de 2021, quando o Brasil sofreu uma indisponibilidade temporária de dados oficiais em meio à pandemia de covid-19. Até o primeiro semestre de 2024, o ITpS integrou e analisou mais de 5,4 milhões de resultados de exames e produziu 70 relatórios, sendo 32 sobre patógenos respiratórios, 10 sobre variantes do SARS-CoV-2 e outros 24 com foco na Ômicron, além de 4 sobre arboviroses. "Os monitoramentos se tornaram uma referência quando se fala em vigilância em tempo oportuno. É uma das nossas contribuições para a saúde pública brasileira na preparação para enfrentar emergências sanitárias por patógenos emergentes e reemergentes", diz Mariângela Simão, diretora-presidente do ITpS.
Os laboratórios parceiros compartilham com o ITpS resultados de exames sempre de forma anônima, ou seja, sem qualquer elemento que possa identificar o paciente, como nome ou CPF. São fornecidas informações como número de casos positivos e negativos, sexo e idade da pessoa, data do exame e município onde foi feito. O ITpS consolida e analisa os dados e, depois, produz um relatório com gráficos informativos, apontando de forma clara e didática as tendências e alertando para a ocorrência de eventuais surtos. Na sequência, o relatório é divulgado para o Ministério da Saúde, secretarias de Saúde e outros órgãos públicos, a Organização Panamericana da Saúde (Opas), profissionais da saúde e outros especialistas, a imprensa e a população em geral, utilizando diferentes canais de comunicação.
"O aumento do percentual de positividade de exames para vírus e bactérias antecipa as tendências de surtos, fato que serve de alerta. Para isso, é fundamental que o monitoramento seja feito de maneira ágil, em tempo oportuno, caso contrário as informações chegam com atraso e viram história", afirma o virologista Anderson Fernandes de Brito, pesquisador científico do ITpS e coordenador dos monitoramentos. "Quando não há rapidez, os dados, embora úteis, são incapazes de suscitar ações. É como se o alarme soasse tarde, com atraso."
Desde dezembro de 2021, os relatórios já foram citados mais de 9,5 mil vezes na imprensa brasileira, em portais, jornais e revistas, programas de TV e rádio. Também foram apresentados em dez eventos científicos nacionais e internacionais.
Início em meio a crise
A indisponibilidade temporária de dados do Ministério da Saúde sobre covid-19 em dezembro de 2021 motivou a realização do primeiro relatório sobre a variante Ômicron. Havia baixa testagem da população e não se sabia o potencial que novas variantes tinham de gerar um recorde de casos da doença, o que dificultava a tomada de decisões com impacto na saúde pública. "Estávamos no 'escuro', sem condições de entender se os números iriam aumentar. O Brasil não tinha dados em tempo real", conta Brito.
Inicialmente, a parceria foi feita com os laboratórios Dasa, DB Molecular e HLAGyn para acompanhamento do coronavírus. Logo em seguida, em fevereiro de 2022, foram incluídos os vírus Influenza A e B e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador da bronquiolite. Ao longo de 2023, novos parceiros se somaram ao esforço: Sabin, Fleury, Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e Hilab. O monitoramento também passou a incluir dados públicos do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de entidades como Gisaid, plataforma internacional que compartilha sequenciamento genômico de patógenos, e Johns Hopkins University, nos Estados Unidos.
A inclusão de novos parceiros permitiu o aumento da abrangência geográfica dos relatórios, com a indicação de algumas tendências regionais, e a incorporação de novos patógenos. Atualmente, sete laboratórios parceiros compartilham resultados de exames para patógenos causadores de doenças respiratórias, arboviroses, gastroenterites, exantemas, infecções sexualmente transmissíveis e encefalites/meningites. Com grande capilaridade, eles estão em todos os estados brasileiros, abrangendo mais de 1.400 municípios.
Os parceiros partilham os resultados de exames de diagnóstico como RT-PCR, Flow Chip, sorológicos, antígenos e outros exames e de sequenciamento genômico para mais de 20 microrganismos, incluindo dengue, rinovírus, enterovírus, metapneumovírus, parainfluenza, bocavírus, adenovírus e bactérias como Bordetella, Mycoplasma e Chlamydophila.
A entrada de novos parceiros trouxe, também, o desafio de integrar e analisar dados que chegam com padrões de formatação diferentes. "Desenvolvemos ferramentas computacionais que permitem agregar os dados, bem como visualizá-los de forma intuitiva e interativa. Ao escrever os relatórios, utilizamos uma linguagem fácil, sem jargões, pois nosso objetivo é levar informações relevantes a públicos diversos", diz Brito. Para os laboratórios, outra vantagem é que os resultados consolidados podem ajudar a antever aumentos na demanda por testes diagnósticos.
Os monitoramentos de patógenos estão alinhados com dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O número 3, de Saúde e Bem-Estar, propõe "assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades". Nesse ODS, as nações se comprometeram a trabalhar para "reforçar a capacidade de todos os países, particularmente os países em desenvolvimento, para o alerta precoce, a redução de riscos e o gerenciamento de riscos nacionais e globais de saúde" e acabar, até 2030, com "as epidemias de aids, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite, doenças transmitidas pela água e outras doenças transmissíveis". Já o número 17, de Parcerias e Meios de Implementação, prevê "reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável". Nesse ODS, fala-se em "incentivar e promover parcerias públicas, público-privadas e com a sociedade civil eficazes, a partir da experiência das estratégias de mobilização de recursos dessas parcerias".
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Todos os monitoramentos realizados pelo ITpS estão no site, na seção Pesquisas.
Para ver algumas das matérias publicadas pela imprensa com base nos relatórios, acesse Na mídia, em Comunicação.