Com dados de 70.267 testes de covid-19 feitos por DB Molecular e Dasa desde 1/2/22, análises do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) mostram que a prevalência da variante Ômicron BA.2 (perfil SGTP) subiu de 69,3% (em 9/4) para 84.3% (em 23/4).
Genomas da sublinhagem BA.1 da Ômicron não têm os códons 69 e 70 do gene S. A falta desse fragmento faz com que testes RT-PCR Thermo Fisher falhem na detecção desse gene (SGTF, S gene target failure), porém outros são detectados (ORF1ab e N), garantindo o diagnóstico.
Genomas da sublinhagem BA.2 da Ômicron, por outro lado, apresentam os códons 69 e 70 do gene S intactos, o que leva a sua detecção (perfil SGTP, S gene target positive). Dessa forma, podemos avaliar as prevalências da BA.2 (SGTP), bem como da BA.1, BA.4 e BA.5 (SGTF).
O perfil SGTF também é observado nas sublinhagens BA.4 e BA.5 da Ômicron, responsáveis pelo recente crescimento no número de casos na África do Sul. Para monitorar mudanças na prevalência das sublinhagens da Ômicron, testes RT-PCR Thermo Fisher seguirão sendo úteis.
Usando esse tipo de RT-PCR especial, vimos nas últimas semanas aumento da proporção de amostras positivas com gene S detectado (perfil SGTP, em cinza), característico da sublinhagem BA.2 da Ômicron. Igualmente observamos aumento da positividade de testes (detalhes a seguir).
Entre 17/4 e 23/4, observou-se aumento da prevalência da Ômicron BA.2 de 69,3% para 84.3% (linha cinza). Com isso, a sublinhagem BA.1 da Ômicron (gene S não detectado, linha verde) segue perdendo espaço para a BA.2, como já observado em outros países.
Neste presente relatório, observamos que ao menos 13 estados e 122 municípios vêm apresentando casos prováveis da Ômicron BA.2 desde 1/2/2022. Com a disseminação da BA.2, nas últimas duas semanas a positividade de testes subiu de 6,2% para 11,7% em nível nacional.
Com dados de testes moleculares, avaliamos a positividade para covid-19 em alguns estados e por faixa etária. Os dados abaixo (semanais) mostram o cenário desde o início de fevereiro de 2022. A positividade de testes vem aumentando em estados e grupos avaliados.
Em especial no Sudeste, de onde provém grande parte dos dados (>90%), a positividade apresentou aumento mais evidente. Em São Paulo, foi de 7% a 11% entre 10 e 23/4, e aumento similar foi observado em Minas Gerais (de 6 a 14%) no mesmo período.
Nas últimas semanas, por faixa etária, aumentos similares na positividade têm sido observados, em especial entre jovens de 10-19 anos (de 10,4 a 12,1%) e adultos acima de 30 anos. Entre crianças de 0-9 anos, a positividade chegou a 4,4% na última semana.
Os impactos da BA.2 no Reino Unido e na África do Sul foram distintos: o primeiro observou aumento do número de casos e hospitalizações enquanto o segundo, não. Aspectos demográficos e de imunidade populacional podem explicar esses padrões.
Nossas análises apontam que a covid-19 no Brasil é hoje causada principalmente pela Ômicron BA.2. É importante pontuar, porém, que outros vírus estão em circulação. O VSR, por exemplo, causa hoje grande parte das infecções respiratórias em crianças (clique aqui para ler).
Com a disseminação da BA.2, o número de casos de covid-19 deverá aumentar, mas esperamos que a sublinhagem não cause os mesmos impactos da BA.1, comportando-se de forma similar à substituição da Gama pela Delta. Porém, devemos seguir avaliando o cenário das próximas semanas.
É importante seguir monitorando a disseminação do vírus e observar atentamente quais serão seus impactos. Em caso de sinais de reversão do cenário, incluindo aumento de hospitalizações, uma resposta rápida será essencial, com possível revisão das flexibilizações adotadas recentemente.