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Monitoramento de arboviroses - relatório 3

DATA DE PUBLICAÇÃO: 23.05.2024

A positividade de testes para dengue atingiu o patamar mais elevado dos últimos dois anos.


As análises são do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) com dados de cerca de 500 mil exames diagnósticos feitos entre maio de 2022 e maio de 2024 pelos laboratórios Fleury, Hilab, HLAGyn, Hospital Israelita Albert Einstein e Sabin.


-------IMG 1 22vs23vs24 Line pos------




Acima, temos as positividades calculadas com dados do setor privado de 2022 a 2024. Como vimos no relatório 1, os atuais surtos de dengue tiveram início em nov/23. Após queda da positividade em fev/24, novo aumento foi observado entre a Semana Epidemiológica 08 (SE08) e a SE19, chegando a 34,5%. É o maior percentual já registrado em nossos dados.


1. Nuances inerentes a exames de diagnóstico para dengue


A detecção do vírus da dengue em exames diagnósticos depende do período de coleta da amostra. O guia Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico, do Ministério da Saúde, recomenda que as amostras sejam coletadas até o 5º dia após início de sintomas (ápice da infecção) para testes RT-PCR antígeno (NS1) ou isolamento viral.


Testes em períodos tardios falham na detecção do vírus, logo, um teste negativo não atesta,  necessariamente, a ausência de infecção recente (i.e pode gerar resultado falso negativo). A partir do 6º, como sugerido no guia acima, a opção são testes sorológicos.


Considerando essas nuances do diagnóstico, o número oficial de infecções por dengue vírus, tanto no setor público quanto privado, é certamente inferior ao existente. Mesmo com baixo número de testes e subnotificações, o alto número de infecções é notório.


2. Origem e volume de dados de diagnóstico


Os dados apresentados neste relatório provêm majoritariamente de laboratórios da rede privada, com atuação principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do país (gráfico abaixo).


-------IMG 2 DENV Bar total REGIONS-------




Com a recente inclusão do Fleury como laboratório parceiro, passamos a ter acesso a um volume maior de resultados de exames para arbovírus dos últimos anos, melhorando a representatividade geográfica dos dados. Os dados que apresentamos nestas análises são, em sua maioria, de diagnósticos para dengue, em especial testes de antígeno (NS1) e PCR.


Os dados acima, estratificados entre resultados positivos (vermelho) e negativos (azul) ao longo das semanas dos últimos 12 meses, mostram que a demanda por testes se mantém alta desde o fim de fev/24.


A alta procura por testes é reflexo direto do aumento do número de pessoas com sintomas de dengue. Isso fica evidente quando observamos altas expressivas da positividade, que chegou a 34,6% na última Semana Epidemiológica analisada (SE19, última barra do gráfico).


-------IMG 3 DENV Bar posneg-------




A positividade tem se mostrado um indicador estratégico, pois é capaz de indicar o início do surto antes mesmo de aumentos claros no número de exames positivos. Usando essa métrica é possível observar que alguns surtos começaram na virada de outubro para novembro/23.


3. Surtos de dengue em diferentes regiões e estados


Com base em dados do setor privado, importantes diferenças cronológicas dos surtos são notadas nos estados. No Distrito Federal (DF), por exemplo, o aumento na positividade de testes foi percebida na SE44 de 2023 (de 29/10 a 4/11/2023).


-------IMG DENV Line States posrate-------




No DF, a positividade passou de 7,8% no início de nov/2023 para 47,8% na primeira semana de 2024, o que levou à decretação de situação de emergência. Na sequência, a positividade caiu ao longo de janeiro e fevereiro, subiu até 31,7% em março, e hoje está em 21% (SE19).


Os dados de positividade de Goiás refletem um padrão similar ao DF: um forte aumento ao longo de dezembro/janeiro, com expressiva queda, seguida por oscilações em março e abril. Em GO, a positividade está atualmente em patamar elevado (38%).


Nos estados de Minas Gerais e São Paulo, a subida da positividade ocorreu de forma mais gradual, com início em nov/23. Desde então, o percentual vem crescendo, com pequenas oscilações. Na SE19, MG e SP apresentaram altas positividades: 30% e 38%, respectivamente.


Na região Sul, os dados indicam aumento no percentual de casos positivos desde fevereiro deste ano. Na SE19, a positividade no Rio Grande do Sul e no Paraná era de 29% e 41%, respectivamente. Os dados dos estados do Norte e do Nordeste ainda são escassos, e seguimos em busca de parceiros nas regiões.


Como mostrado acima, o agravamento dos surtos de dengue nos estados e regiões monitorados tem ocorrido em períodos distintos. Em algumas localidades, observamos agora forte aumento nos testes positivos, enquanto em outras temos queda ou estabilidade.


4. Distribuição geográfica dos testes positivos para dengue


Outra forma de visualizar os dados é com o uso de mapas. Abaixo, vemos de forma cumulativa que os testes positivos para dengue têm sido cada vez mais reportados em estados e municípios desde o fim de out/23, quando a positividade começou a aumentar.



 


Como já citado, nossos dados ainda não são geograficamente representativos. Trabalhamos para agregar novos parceiros e, assim, capturar melhor o cenário de todo o país. Avançamos nesse sentido com a inclusão de novos dados do laboratório Fleury.


Ainda com as limitações de dados das regiões Norte e Nordeste, a análise espacial acima evidencia como o vírus da dengue tem avançado, gerando infecções por todo o país, em ritmos distintos.


5. Distribuição por faixa etária dos testes positivos para dengue


Infecções pelo vírus da dengue afetam todas as faixas etárias. Abaixo temos gráficos que apresentam resultados de testes positivos (antígeno e PCR) por faixas etárias de 0 a mais de 80 anos.


Em relação à positividade de testes, vemos abaixo que esse indicador se elevou a patamares superiores a 30% especialmente nas faixas etárias acima de 10 anos. Já em crianças de 0 a 9 anos, a positividade tem variado de 5 a ~25%.


-------IMG DENV heatmap------




Nesta visualização, percebemos também os dois momentos de aumento da positividade: o primeiro iniciado em nov/2023, com ápice em janeiro, e o segundo com início em fevereiro, e ainda em curso.


-------IMG Arbo - Pyr denv month------




Desde o início do surto no fim do ano passado, até o início de maio, seguimos registrando um número crescente de casos mês após mês. Nesse período, nossos parceiros já detectaram laboratorialmente mais de 68.000 infecções por vírus da dengue (por PCR e antígeno).


6. Vigilância genômica de linhagens de vírus da dengue


Como qualquer vírus em circulação, o vírus da dengue também sofre mutações à medida que infecta seus hospedeiros. Variantes do vírus da dengue surgem e algumas delas podem ter propriedades diferenciadas, ou seja, ser mais transmissíveis, mais evasivas a vacinas, etc.


Nesse contexto, dados de sequenciamento genético do vírus fornecem informações importantes para a preparação, vigilância e resposta às emergências em saúde causadas por este e por outros arbovírus.


Para um bom uso dos dados produzidos pela vigilância genômica viral, um sistema universal de nomenclatura de linhagens virais é essencial para a melhor comunicação e compreensão dos resultados de sequenciamento gerados no país e no mundo.


Com esse objetivo, no dia 17/5, um grupo de pesquisadores internacionais, incluindo brasileiros, lançou um sistema de nomenclatura de linhagens do vírus da dengue. Tal sistema é descrito neste manuscrito (em fase de revisão) e neste website.


A concepção desse sistema tem apoio de pesquisadores que atuam no ITpS, como o virologista Anderson Brito e o biólogo Gabriel Wallau (pesquisador vinculado à Fiocruz de Pernambuco). O sistema proposto será fundamental para o aprimoramento da vigilância do vírus.


O sistema ‘dengue-lineages’ usa códigos alfanuméricos para nomear as variantes. Esse padrão neutro de nomenclatura é essencial, pois evita estigmas trazidos por nomes inadequados que informalmente são dados a variantes (“variante centauro”, “variante indiana”, etc).


Para nomear as variantes, informações sobre sorotipo, genótipo, linhagem e sub-linhagem viral são utilizadas. Por exemplo, segundo dados abertos a que tivemos acesso, os vírus da linhagem 1V_E (sorotipo DENV-1, genótipo cinco, linhagem E) foram os mais comuns entre 2022 e 2023 no Brasil.


-------IMG GEN DENV Relative------




As informações acima derivam de análises do ITpS, com base em dados disponíveis no GenBank/NCBI, e outros gerados pelos laboratórios parceiros dos pesquisadores Maurício Nogueira (FAMERP), Fernando Spilki (FEEVALE) e Renato Santana (UFMG).


Em 2022 e 2023, houve predominância dos vírus da linhagem 1V_E. No entanto, as linhagens A, D e F do genótipo cinco de DENV-1 também foram detectadas. Linhagens do DENV-2 foram identificadas, em especial a linhagem F do genótipo dois. Análises filogenéticas desses dados também foram realizadas e estão disponíveis nos links: DENV-1 e DENV-2.


Com base em dados de sequenciamento que tivemos acesso, a linhagem 3III_B foi a única do sorotipo 3 (DENV-3) detectada no Brasil nos últimos dois anos. A linhagem C, do mesmo genótipo, já circulou no país em anos anteriores, mas não foi observada nessa amostragem.


Com relação ao DENV-4, as linhagens 4I_A e 4II_B já foram identificadas no Brasil, mas nos dois anos passados nenhum registro dessas variantes do sorotipo 4 foi reportada nos dados genômicos de acesso aberto.


-------IMG GEN DENV Total------




Aumentar o conhecimento da diversidade genética do vírus da dengue que circula no Brasil é essencial. Informações genômicas são cada vez mais relevantes para preparar nosso país para enfrentar novas epidemias de dengue, em especial no contexto atual do uso pioneiro da vacina contra a doença.


7. Distribuição geográfica dos testes positivos para chikungunya e distribuição por faixa etária para demais arboviroses monitoradas


Também temos observado aumento no número de exames positivos para chikungunya (PCR e IgM) ao longo dos últimos meses. Abaixo, vemos, de forma cumulativa, como as infecções por CHIKV vêm se disseminando em municípios e estados desde out/23.


Entre os dados que analisamos também encontramos resultados de testes que detectam outros arbovírus em circulação, como Zika, Chikungunya e Oropouche. Abaixo temos o número de testes positivos (PCR, antígeno e IgM) para esses vírus, por faixa etária, ao longo dos últimos meses. 


-------IMG Arbo - Pyr month------




8. Mensagens finais


Esta análise de dados em tempo oportuno apresenta indicadores para a dengue que têm superado os números reportados em 2022 e 2023. Seguiremos emitindo este relatório regularmente, acompanhando os surtos de arbovírus ao longo dos próximos meses e fornecendo dados atualizados que possam ajudar na resposta às doenças.


Dado o baixo número de diagnósticos, este relatório apresenta dados que não representam todas as unidades federativas de forma homogênea e não tem ajuste populacional.


A dengue e a chikungunya são doenças vetoriais transmitidas por mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus. Neste momento, apesar do recente lançamento da campanha de vacinação contra a dengue, a principal forma de controle ainda é o combate ao vetor.


Precisamos eliminar os criadouros, removendo recipientes que acumulam água.


Fique atento dentro e fora da sua casa, verifique locais que podem ser foco desses mosquitos e, se necessário, comunique a vigilância da sua cidade sobre terrenos baldios que podem conter criadouros.


Em caso de sintomas como febre, dor de cabeça, dor no corpo e/ou manchas na pele, busque prontamente um serviço de saúde. Fique atento a sinais de alerta da forma grave da dengue, como: dor abdominal intensa, vômitos persistentes e sangramento de mucosa. Nesse caso, busque imediatamente um serviço de saúde.


Quando disponível, é crucial que pessoas elegíveis se vacinem contra a dengue conforme orientações do Ministério da Saúde. A vacinação e o controle vetorial são fundamentais para prevenir e proteger sua saúde.


O ITpS agradece aos laboratórios parceiros, Fleury, Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab, HLAGyn e Sabin, que gentilmente fornecem dados de diagnóstico para compreender o cenário epidemiológico da dengue, chikungunya e outras arboviroses.

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