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Monitoramento de arboviroses - relatório 4

DATA DE PUBLICAÇÃO: 21.06.2024

A positividade para o vírus da dengue apresentou queda abrupta nas últimas duas semanas epidemiológicas (SE 22 a 24). As análises são do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) com dados de cerca de 422 mil de exames diagnósticos realizados entre maio de 2022 e junho de 2024 pelos laboratórios DB Molecular, Fleury, Hilab, HLAGyn, Hospital Israelita Albert Einstein, Sabin.

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De acordo com os dados de laboratórios parceiros, a maior positividade para dengue dos últimos dois anos ocorreu em maio/2024 (SE 20), quando alcançou o patamar de 38%. A partir de junho (SE 22) houve uma redução de aproximadamente 16 pontos percentuais. 

A diminuição do número de casos de dengue já era esperada para essa época do ano devido à queda da temperatura e do índice de pluviosidade, fatores que impactam a proliferação do vetor: mosquito do gênero Aedes.

O clima frio e o baixo regime de chuvas, predominantes na maioria das regiões do país neste período, desfavorecem o mosquito vetor. Reforçamos que mesmo no inverno as ações de vigilância e os cuidados de prevenção da doença devem permanecer.

1. Nuances inerentes a exame de diagnóstico de dengue

A detecção do vírus da dengue em exames diagnósticos depende do período de coleta da amostra. O guia ‘Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico’, do Ministério da Saúde, recomenda que as amostras sejam coletadas até o 5º dia após início de sintomas (ápice da infecção) para testes RT-PCR, antígeno (NS1) ou isolamento viral.

Testes em períodos tardios falham na detecção do vírus, logo, um teste negativo não atesta,  necessariamente, a ausência de infecção recente (i.e podem gerar resultados falso-negativos). A partir do 6º dia, como sugerido no guia acima, a opção são testes sorológicos.

Considerando essas nuances do diagnóstico, o número oficial de infecções pelo vírus da dengue, tanto no setor público quanto no privado, é certamente inferior ao existente. Mesmo com baixo número de testes e subnotificações, o alto número de infecções de 2024 é notório.

2. Origem e volume de dados de diagnóstico

Os dados apresentados neste relatório provêm majoritariamente de laboratórios da rede privada, com atuação principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, respectivamente. O gráfico abaixo apresenta o número de testes realizados nas diferentes regiões do país. 

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Seguimos expandindo o volume de resultados de exames para arbovírus dos últimos anos para alcançar uma melhor distribuição geográfica dos dados. Os dados que apresentamos nestas análises são, em sua maioria, de diagnósticos para dengue, em especial testes de antígeno (NS1) e PCR.

Os dados abaixo, estratificados entre resultados positivos (vermelho) e negativos (azul) ao longo das semanas dos últimos 12 meses, mostram que a demanda por testes diminuiu acompanhando a queda no número de casos e de positividade.

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A redução da procura por testes é reflexo direto da diminuição do número de pessoas com sintomas de dengue. Isso fica evidente quando observamos a queda expressiva da positividade entre maio (SE 20) a junho (SE 24, última barra do gráfico).

A incidência é amplamente reconhecida como um indicador crucial no monitoramento e avaliação do estado de saúde. No caso das arboviroses, ela permite identificar tendências e variações sazonais, considerando toda a população local.

Nesse sentido, evidenciamos outro indicador estratégico – a positividade –, que é capaz de identificar o início do surto antes mesmo de aumentos claros no número de exames positivos. Dessa forma, ela pode contribuir para tomada de decisão e planejamento.

3. Surtos de dengue em diferentes regiões e estados

Com base em dados dos laboratórios parceiros, importantes diferenças cronológicas dos surtos foram notadas entre os estados. No Distrito Federal (DF), por exemplo, o aumento na positividade de testes foi percebida ainda na SE44 de 2023 (de 29/10 a 4/11/2023).

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No DF, a positividade passou de 7,8% no início de nov/2023 para 47,8% na primeira semana de 2024, o que levou à decretação de situação de emergência. Na sequência, a positividade caiu ao longo de janeiro e fevereiro, subiu até 31,7% em março, e hoje está em 10% (SE24).

Os dados de positividade de Goiás refletem um padrão similar ao DF: um forte aumento ao longo de dezembro/janeiro, com expressiva queda, seguida por oscilações em março e abril. Hoje, em GO, a positividade (27%) ainda é superior à registrada no DF.

Nos estados de Minas Gerais e São Paulo, a subida da positividade ocorreu de forma mais gradual, com início em nov/23. Minas Gerais apresentou ápice de positividade na SE13 (35%) enquanto para São Paulo isso ocorreu na SE20 (42%). Atualmente, os dois estados apresentam taxas de positivos similares: 19% (MG) e 21% (SP).

Na Região Sul, os dados indicam aumento no percentual de casos positivos desde fevereiro deste ano. Na SE20 ocorreu a maior taxa de positividade no Rio Grande do Sul e no Paraná (44% e 46%, respectivamente). Na semana seguinte, essas taxas começaram a cair e na SE24, chegou a 11% no RS e 15% no PR.

Os dados dos estados do Norte e do Nordeste ainda são escassos, e seguimos em busca de parceiros nas regiões. Interessados em colaborar com esta iniciativa podem entrar em contato com o instituto pelo email: comunicacao@itps.org.br.

Como mostrado acima, os surtos de dengue nos estados e regiões monitorados ocorreram em períodos distintos. Atualmente, todos os estados monitorados apresentam queda da positividade.

4. Distribuição geográfica dos testes positivos para dengue

Outra forma de visualizar os dados é com o uso de mapas. Abaixo, vemos de forma cumulativa os testes positivos para dengue reportados em estados e municípios desde o fim de out/23, quando a positividade começou a aumentar.

Nossos dados não cobrem todas as regiões de maneira equitativa. Trabalhamos para agregar novos parceiros e, assim, capturar melhor o cenário de todo o país. Avançamos nesse sentido com a inclusão de dados do laboratório DB Molecular.

Apesar das limitações de dados das Regiões Norte e Nordeste, a análise espacial acima evidencia como o vírus da dengue avançou, gerando infecções por todo o país, em ritmos distintos.

5. Distribuição por faixa etária dos testes positivos para Dengue

Infecções pelo vírus da dengue afetam todas as faixas etárias. Abaixo temos gráficos que apresentam o percentual de testes positivos (antígeno e PCR) por faixas etárias de 0 a mais de 80 anos.

Em relação à positividade de testes, vemos abaixo que esse indicador caiu para patamares de 10%, especialmente nas faixas etárias abaixo de 9 anos e acima de 80 anos. A faixa etária dos idosos de 60 a 69 anos possui a maior positividade de 26%.

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Nessa visualização, percebemos também os dois momentos de aumento da positividade: o primeiro iniciado em novembro/2023, com ápice em janeiro, e o segundo com início em abril e ápice em junho.

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Desde o início do surto no fim do ano passado, até o início de maio, registramos um número crescente de casos mês após mês. Nesse período, nossos parceiros já detectaram laboratorialmente mais de 68.000 infecções por vírus da dengue (por PCR e antígeno).

6. Vigilância genômica de linhagens de vírus da dengue

Como qualquer vírus em circulação, o vírus da dengue também sofre mutações à medida que infecta seus hospedeiros. Variantes do vírus da dengue surgem e algumas delas podem ter propriedades diferenciadas, ou seja, ser mais transmissíveis e mais evasivas a vacinas, etc.

Nesse contexto, dados de sequenciamento genético do vírus fornecem informações importantes para a preparação, vigilância e resposta às emergências em saúde causadas por esse e por outros arbovírus.

Para um bom uso dos dados produzidos pela vigilância genômica viral, um sistema universal de nomenclatura de linhagens virais é essencial para a melhor comunicação e compreensão dos resultados de sequenciamento gerados no país e no mundo.

Com esse objetivo, em março deste ano, um grupo de pesquisadores internacionais, incluindo brasileiros, lançou um sistema de nomenclatura de linhagens do vírus da dengue. Tal sistema é descrito nesse manuscrito (em fase de revisão) e nesse website.

A concepção desse sistema tem apoio de pesquisadores que atuam no ITpS, como o virologista Anderson Brito e o biólogo Gabriel Wallau (pesquisador vinculado à Fiocruz de Pernambuco). O sistema proposto será fundamental para o aprimoramento da vigilância do vírus.

O sistema ‘dengue-lineages’ usa códigos alfanuméricos para nomear as variantes. Esse padrão neutro de nomenclatura é essencial, pois evita estigmas trazidos por nomes inadequados que informalmente são dados a variantes (“variante centauro”, “variante indiana”, etc).

Para nomear as variantes, informações sobre sorotipo, genótipo, linhagem e sublinhagem viral são utilizadas. Por exemplo, segundo dados abertos a que tivemos acesso, os vírus da linhagem 1V_E (sorotipo DENV-1, genótipo cinco, linhagem E) foram os mais comuns entre 2022 e 2023 no Brasil.

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As informações acima derivam de análises do ITpS, com base em dados disponíveis no GenBank/NCBI e 862 sequências geradas pelos laboratórios de Maurício Nogueira (FAMERP), Fernando Spilki (FEEVALE), Camila Romano (IMT/USP), Shirlene Telmos (LACEN-CE) e Renato Santana (UFMG).

Desde 2022, entre as variantes circulantes houve predominância da linhagem 1V_E. Outras linhagens de DENV-1, menos frequentes, também circularam no período, todas pertencentes ao genótipo 5.São elas: 1V_A, 1V_D e 1V_F.

Nos últimos anos, quanto aos vírus do sorotipo 2 (DENV-2), os dados genômicos abertos indicam a circulação de duas linhagens principais: a 2III_C.1.1 (menos frequente), e em especial a 2II_F.1.2, variante do genótipo 2 (também conhecido como ‘Cosmopolitan’).

Com base em dados recentes gerados por laboratórios parceiros, observamos que a linhagem 2II_F.1.2 esteve entre as causadoras da epidemia de dengue no Distrito Federal no início deste ano.

Quanto às variantes do sorotipo 3 (DENV-3), apenas a linhagem 3III_B.3 foi detectada no Brasil desde 2022. A linhagem C, do mesmo genótipo, já circulou no país em anos anteriores, mas não foi observada nos últimos dois anos.

Com relação ao DENV-4, as linhagens 4I_A e 4II_B já foram identificadas no Brasil, mas de 2022 para cá nenhum registro delas foi reportado entre os dados genômicos de acesso aberto.

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As análises apresentadas acima se basearam em genomas públicos (do GenBank/NCBI), bem como dados gerados por laboratórios parceiros (citados acima). Tais análises foram realizadas em conjunto com análises filogenéticas dos dados genômicos, que podem ser acessadas nos seguintes links: DENV-1 e DENV-2.

Recentemente, a Fiocruz lançou um painel com dados complementares de vigilância genômica da dengue no Brasil (acessível neste link). Lá é possível encontrar informações de genomas depositados no GISAID, bem como dados de sorotipos circulantes inferidos por PCR (vindos da base de dados SINAN).

Aumentar o conhecimento da diversidade genética do vírus da dengue que circula no Brasil é essencial. Informações genômicas são cada vez mais relevantes para preparar nosso país para enfrentar novas epidemias de dengue, em especial no contexto atual do uso pioneiro da vacina contra a doença.

7. Distribuição geográfica dos testes positivos para chikungunya e distribuição por faixa etária para demais arboviroses monitoradas

Também registramos aumento no número de exames positivos para chikungunya (PCR e IgM) ao longo dos últimos meses. Abaixo, vemos, de forma cumulativa, como as infecções por CHIKV vêm se disseminando em municípios e estados desde nov/23.

Entre os dados que analisamos também encontramos resultados de testes que detectam outros arbovírus em circulação, como os vírus da Zika, Chikungunya, Oropouche, Febre Amarela e Mayaro. Abaixo temos o número de testes positivos (PCR, antígeno e IgM) para esses vírus, por faixa etária, ao longo dos últimos meses.

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 8. Mensagens finais

Esta análise de dados em tempo oportuno apresenta indicadores para a dengue que  superaram os números reportados nos últimos dois anos. Seguiremos emitindo este relatório regularmente enquanto perdurarem os surtos.

Em paralelo, manteremos a página https://www.itps.org.br/pesquisa-detalhe/historico-de-surtos-de-arboviroses no site do ITpS com atualizações semanais do histórico de surtos de arboviroses, trazendo um recorte de modo mais objetivo, com os principais gráficos que utilizamos em nossos relatórios periódicos.

A dengue e a chikungunya são doenças vetoriais transmitidas por mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus. Neste momento, apesar do recente lançamento da campanha de vacinação contra a dengue, a principal forma de controle ainda é o combate ao vetor.

Precisamos eliminar os criadouros, removendo recipientes que acumulam água. Fique atento dentro e fora da sua casa, verifique locais que podem ser foco desses mosquitos e, se necessário, comunique a vigilância da sua cidade sobre terrenos baldios que podem conter criadouros.

Em caso de sintomas como febre, dor de cabeça, dor no corpo e/ou manchas na pele, busque prontamente um serviço de saúde. Fique atento a sinais de alerta da forma grave da dengue, como: dor abdominal intensa, vômitos persistentes e sangramento de mucosa. Nesse caso, busque imediatamente um serviço de saúde.

Quando disponível, é crucial que pessoas elegíveis se vacinem contra a dengue conforme orientações do Ministério da Saúde. A vacinação e o controle vetorial são fundamentais para prevenir e proteger sua saúde.

O ITpS agradece aos laboratórios parceiros, DB Molecular, Fleury, Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab, HLAGyn e Sabin, que gentilmente fornecem dados de diagnóstico para compreender o cenário epidemiológico da dengue, chikungunya e outras arboviroses.

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