A positividade para o vírus da dengue vem apresentando queda nas últimas 9 semanas epidemiológicas (SE22 a 31). As análises são do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) com mais de 670 mil exames diagnósticos realizados entre janeiro de 2022 a julho de 2024 pelos laboratórios DB Molecular, Fleury, Hilab, HLAGyn, Hospital Israelita Albert Einstein e Sabin.
Sem dúvidas, o ano de 2024 foi marcado por uma das piores epidemias de dengue na América Latina. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o Brasil liderou o ranking dos países mais afetados pela doença.
De acordo com os dados dos laboratórios parceiros, a maior positividade dos últimos dois anos ocorreu em maio/2024 (SE20), quando alcançou o patamar de 38%. Deste ponto até o início de agosto (SE31), a positividade teve uma redução de mais de 30 pontos percentuais, e hoje está abaixo de 7%.
A diminuição do número de casos de dengue já era esperada para essa época do ano devido às quedas da temperatura e do índice de pluviosidade, fatores que desfavorecem a proliferação do mosquito vetor, do gênero Aedes.
A detecção do vírus da dengue em exames diagnósticos depende do período de coleta da amostra. O guia Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico, do Ministério da Saúde, recomenda que as amostras sejam coletadas até o 5º dia após início de sintomas (ápice da infecção) para exames RT-PCR, antígeno (NS1) ou isolamento viral.
Exames em períodos tardios falham na detecção do vírus, logo, um teste negativo não atesta, necessariamente, a ausência de infecção recente (i.e podem gerar resultados falso-negativos). A partir do 6º dia, como sugerido no guia acima, a opção são exames sorológicos.
Considerando essas nuances do diagnóstico, o número oficial de infecções pelo vírus da dengue, tanto no setor público quanto no privado, é certamente inferior ao real. Mesmo com baixo número de exames e subnotificações, o alto número de infecções de 2024 é notório.
Os dados apresentados neste relatório provêm majoritariamente de laboratórios da rede privada, com atuação principalmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, respectivamente. O gráfico abaixo apresenta o número de exames realizados nas diferentes regiões do país.
Seguimos expandindo o volume de resultados de exames para arbovírus dos últimos anos para alcançar uma melhor distribuição geográfica dos dados. Os dados que apresentamos nestas análises são, em sua maioria, de diagnósticos para dengue, em especial exames de antígeno (NS1) e PCR.
Os dados abaixo, estratificados entre resultados positivos (vermelho) e negativos (azul) ao longo das semanas dos últimos 12 meses, mostram que a demanda por exames diminuiu acompanhando a queda no número de casos e de positividade.
A incidência é amplamente reconhecida como um indicador crucial no monitoramento de surtos e epidemias. No caso das arboviroses,permite identificar tendências e variações sazonais, considerando toda a população local.
Apresentamos aqui outro indicador estratégico: a positividade, porcentagem de exames positivos entre todos os exames realizados num período. Calculado com base em dados oportunos, esse indicador antecipa a detecção do início de surtos e contribui para a tomada de decisões.
Com base em dados dos laboratórios parceiros, importantes diferenças cronológicas dos surtos foram notadas entre os estados. No Distrito Federal (DF), por exemplo, o aumento na positividade de exames ocorreu antecipadamente, ainda na SE44 de 2023 (29/10 a 4/11).
No DF e em GO, a positividade aumentou de patamares inferiores a 2% em outubro/2023 para aproximadamente 50% em janeiro de 2024, refletindo o rápido aumento nos casos que levou à decretação de situação de emergência. Na última semana epidemiológica (SE24), a positividade caiu para 7,7% em GO e 2% no DF. (SE24).
Nos estados de MG e SP, o aumento da positividade ocorreu de forma mais gradual, com início em novembro/23. MG apresentou ápice de positividade na SE13 (35%), enquanto em SP isso ocorreu na SE20 (42%). Atualmente, os dois estados apresentam positividades em queda e em patamares similares: 9,8% (MG) e 7,6% (SP).
Na Região Sul, o aumento no percentual de exames positivos se iniciou em dezembro/23 em SC e PR, enquanto no RS o aumento se deu entre janeiro e fevereiro/24. Nesses estados, as maiores positividades foram registradas em meados de maio (de 44% a 50%), momento a partir do qual os percentuais passaram a cair – hoje estão abaixo de 8%.
Os dados dos estados do Norte e do Nordeste ainda são escassos, e seguimos em busca de parceiros nas regiões. Interessados em colaborar com esta iniciativa podem entrar em contato com o instituto pelo email: comunicacao@itps.org.br.
Como mostrado acima, os surtos de dengue nas regiões e nos estados monitorados ocorreram em períodos distintos. Atualmente, todos os estados monitorados apresentam queda da positividade, refletindo a redução de casos esperada neste período do ano.
Outra forma de visualizar os dados é com o uso de mapas. Abaixo, vemos cumulativamente os exames positivos e como o vírus da dengue (DENV) se disseminou em estados e municípios desde o fim de outubro de 2023, quando a positividade começou a aumentar, até o ápice de positividade no país, no fim de maio (21/52).
Nossos dados (PCR e IgM) também registraram a disseminação de surtos do vírus chikungunya (CHIKV) ao longo dos últimos meses. Abaixo, vemos, de forma cumulativa, como os casos se disseminaram em municípios e estados entre outubro de 2023 e maio de 2024.
Os dados apresentados acima não cobrem todas as regiões de maneira equitativa, mas continuamos incluindo novos parceiros para, assim, capturar melhor o cenário de todo o país. Apesar das limitações, as análises espaciais acima evidenciam como esses vírus avançaram gerando infecções por todo o país.
Infecções pelo vírus da dengue afetam todas as faixas etárias. Abaixo, temos gráficos que evidenciam isso, apresentando a positividade e o total de exames positivos (antígeno e PCR) nas faixas etárias de 0 a 80+ anos.
Em relação à positividade de exames, vemos que esse indicador alcançou os patamares mais baixos do ano na última semana, variando de 2,1% a 8,3%. A faixa etária com maior positividade é a de 30-39 anos (8,3%), seguida pela de 50-59 (7,5%) e a de 20-29 anos (7%).
No mapa de calor acima percebemos também os dois momentos de aumento da positividade: o primeiro iniciado em outubro de 2023, com ápice em janeiro, e o segundo, com início em março e ápice em maio deste ano.
Entre os meses de fevereiro e maio, nossos parceiros detectaram laboratorialmente mais de 107.800 infecções pelo vírus da dengue (por PCR e antígeno). De junho até a última semana fica evidente a redução dos casos em todas as faixas etárias.
Entre os dados que analisamos também encontramos resultados de exames que detectam outros arbovírus em circulação, como os vírus da Zika, Chikungunya, Oropouche, Febre Amarela e Mayaro.
Abaixo temos o número de exames positivos (PCR, antígeno e IgM) para esses vírus, por faixa etária, ao longo dos últimos meses.
Esta análise de dados em tempo oportuno apresenta indicadores para a dengue que superaram os números reportados por nossos parceiros nos últimos dois anos. Nosso próximo relatório periódico de arbovírus será publicado em novembro, ou logo que detectarmos o início de novos surtos.
Nossas análises de dados não serão interrompidas. Na nossa página de histórico de surtos de arboviroses seguiremos disponibilizando atualizações semanais com os principais resultados que apresentamos nos relatórios periódicos.
A dengue e a chikungunya são doenças vetoriais transmitidas por mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus. Neste momento, apesar do recente lançamento da campanha de vacinação contra a dengue, a principal forma de controle ainda é o combate ao vetor.
Precisamos eliminar os criadouros, removendo recipientes que acumulam água, tanto antes quanto durante o período de surtos. Fique atento dentro e fora da sua casa, verifique locais que podem ser foco dos mosquitos e, se necessário, comunique a vigilância da sua cidade sobre terrenos baldios que podem conter criadouros.
Quando disponível, é crucial que pessoas elegíveis se vacinem contra a dengue conforme orientações do Ministério da Saúde. A vacinação e o controle vetorial são fundamentais para prevenir e proteger sua saúde.
O ITpS agradece aos laboratórios parceiros, DB Molecular, Fleury, Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab, HLAGyn e Sabin, que gentilmente fornecem dados de diagnóstico para compreender o cenário epidemiológico da dengue, chikungunya e outras arboviroses.